sábado, 27 de novembro de 2010

A Espera

Leu o jornal duas vezes enquanto tomava uma xícara de café preto e sem açúcar.
Acostumou-se a fazer isso repetidas vezes, apenas nos dias em que restavam-lhe alguns minutos aproveitados cuidadosamente. Ainda que fossem poucos ele gostava de sentir em sua boca o sabor amargo que chegava quente às suas papilas e decia-lhe queimando a garganta já acostumada com a pressa diária das refeições.

Quando terminou ainda era cedo, mais cedo do que esperava, então resolveu tomar um banho terapêutico, que durasse 30 longos minutos contribuindo para acabar com a água do planeta o que, naquele momento, não o preocupava nem um pouco. Não havia preocupação com nada nos últimos tempos. Era apenas um viver comum que obrigava apenas um trabalho, alguma leitura e algumas pessoas que conversam despretenciosamente durante o dia sobre notícias corriqueiras.

Aquilo era o normal, o comum de cada dia...
Acabou o banho, se vestiu e pôs-se a andar. Observou pessoas, animais e até árvores pelo caminho, constatou que as coisas praticamente não mudam de lugar nas manhãs de dias úteis. Nos finais de semana as ruas ganham um tom sombrio e sórdido, acompanhado, geralmente, por um silêncio que dói aos ouvidos.

Chegou. Fez tudo como sempre faz, sentou-se e esperou. Uma espera que acontece todos os dias, uma espera que já faz parte da sua vida. Uma espera triste, mas imperceptível aos olhos de outros. Talvez imperceptível até para ele. Ele que faz repetidos movimentos todos os dias e não nota que espera um movimento diferente de outra pessoa.

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