quarta-feira, 7 de julho de 2010

"Ou isto, ou aquilo"

Ontem, tomei uma decisão difícil, tão difícil quanto outras que precisei tomar em outras circunstâncias. Eu não tinha notado a frequência com que necessito de atitudes drásticas. É, mas nem por isso estou contente. Ninguém fica contente quando precisa escolher sob pressão, aliás, ninguém gosta de escolher, afinal, como disse em outro texto: escolher uma ação é por reação excluir outra.
E o ser humano é egoísta demais para perder. Dói demais abrir mão. E por mais que se perca o tempo todo, nunca estamos prontamente esperando por outra perda.
Pois é. Mesmo que o horóscopo dissesse algo contrário, que as possíveis evidências dissessem, que pessoas me dissessem e que meu coração pedisse, resolvi mudar o rumo, mudar as expectativas.
Sabe, ando cansada de expectativas. E se voltar a falar do horóscopo norteia de maneira diferente, meu signo não é adepto a mudanças. Será por isso que estou tendo tamanha dificuldade? Duvido.
Ah, não sei! Sei que este blog era pra ser coletânea de muita coisa legal e tem sido apenas lugar de refúgio e desabafo. Bem, não tão desabafo já que usar pronomes indefinidos confere alguma confidencialidade ao texto. Mas de que adianta o sigilo se meu rosto estampa tudo tão claramente?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Marola

O mar. As ondas iam e vinham, iam e vinham, dava até tontura. O azul era tão lindo. O mar e sua imensidão.
O sol pousava em suas águas e seus raios eram refletidos e trazidos até meu rosto que avermelhava de calor, de timidez. Eu ficava tímida perto do mar.
Um barulhinho bom de onda enchia meus ouvidos e coração. A areia grudava em mim e arranhava aos poucos minha pele. E o vento, ah o vento... o vento sempre me encantou tanto! Consegue levar e trazer um pouco de mim para todo o mundo. Bagunça meu cabelo, dá calafrios e leva para o mar. E o mar dissipa tudo, digno de gigante que é. A vida é tão pequenininha perto do mar, aquela partezinha de oceano.
Mineiro ama o mar, porque o mar é capaz de produzir uma saudade imensa. Acho que Minas já o teve e que a saudade aqui é milenar... percorre rios e rios de nostalgia dura. Não é à toa que Minas é "saudades a matar".

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sei lá não sei...

Hoje eu não gostaria que ninguém lesse o que quero escrever. Estas linhas não farão sentido, nem mesmo devem ser coesas com o que estou pensando, já que agora tudo está embaralhado em minha cabeça.
Li tantos textos do Rubem Braga, acabei o último há 2 minutos, mas por mim, passaria a noite inteira lendo suas crônicas. Senti-me egoísta, porque desejei ao máximo ter escrito algumas de suas linhas. Senti-me inútil por não poder escrever com a simplicidade e perfeição de Rubem, mas senti-me muito pior por não conseguir dizer as coisas que ficam entaladas em minha garganta às pessoas que gostaria.
Nada está fazendo muito sentido, só vejo as cenas se misturando e formando o que eu não sei descrever. Há tempos não ficava confusa com essas coisas, nem me importava com o que pensavam ou sentiam por mim. Que há? E por que diabos começou a tocar Cartola como fundo musical das cenas da eliminação do Brasil da Copa?
Isso me forçou a retirar, de uma pasta escondida de sambas que me abrem feridas, as músicas do saudosista sambista. 'Minha, quem disse que ela foi minha?[...] Minha, ela não foi um só instante como mentiu as cartomantes...' 'Sei chorar eu também já sei sentir a dor estou cansado de ouvir dizer que aprende-se a sofrer no amor...'
Que saudade de ir ao Samba da Madrugada, saudade de sentir entrar no corpo uma coisa que não tem tamanho, saudade de me arrepiar e esquecer todo o resto... Afinal sem um pouco de tristeza não se faz um samba, não! Oh céus!!!
E que maldita saudade que é essa que mistura tudo assim?

"Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo." Despedida - Rubem Braga


Será que precisa fazer algum sentido? Afinal hoje estou diferente:
"Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico." O Desaparecido - Rubem Braga