sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sei lá não sei...

Hoje eu não gostaria que ninguém lesse o que quero escrever. Estas linhas não farão sentido, nem mesmo devem ser coesas com o que estou pensando, já que agora tudo está embaralhado em minha cabeça.
Li tantos textos do Rubem Braga, acabei o último há 2 minutos, mas por mim, passaria a noite inteira lendo suas crônicas. Senti-me egoísta, porque desejei ao máximo ter escrito algumas de suas linhas. Senti-me inútil por não poder escrever com a simplicidade e perfeição de Rubem, mas senti-me muito pior por não conseguir dizer as coisas que ficam entaladas em minha garganta às pessoas que gostaria.
Nada está fazendo muito sentido, só vejo as cenas se misturando e formando o que eu não sei descrever. Há tempos não ficava confusa com essas coisas, nem me importava com o que pensavam ou sentiam por mim. Que há? E por que diabos começou a tocar Cartola como fundo musical das cenas da eliminação do Brasil da Copa?
Isso me forçou a retirar, de uma pasta escondida de sambas que me abrem feridas, as músicas do saudosista sambista. 'Minha, quem disse que ela foi minha?[...] Minha, ela não foi um só instante como mentiu as cartomantes...' 'Sei chorar eu também já sei sentir a dor estou cansado de ouvir dizer que aprende-se a sofrer no amor...'
Que saudade de ir ao Samba da Madrugada, saudade de sentir entrar no corpo uma coisa que não tem tamanho, saudade de me arrepiar e esquecer todo o resto... Afinal sem um pouco de tristeza não se faz um samba, não! Oh céus!!!
E que maldita saudade que é essa que mistura tudo assim?

"Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo." Despedida - Rubem Braga


Será que precisa fazer algum sentido? Afinal hoje estou diferente:
"Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico." O Desaparecido - Rubem Braga

Um comentário:

Lilian Palhares disse...

Deh, muito bom texto.
E pode ter certeza que muitas palavras escritas pelo Rubem voc~e já as disse de um jeito ou outro.

Eu te amo, sua besta!