sábado, 26 de setembro de 2009

Sequenciamento de uma não-sequência.

Resolvi voltar a postar textos aqui. Acho que será importante e uma experiência nova pra mim.

O texto a seguir foi escrito no carnaval de 2007. Minha nova sequência que não tem ordem cronológica! ^^



O interior dos homens.

Quando criança, morava numa cidadezinha do interior com poucas pessoas e muitos conhecidos. Como é típico de cidades pequenas a “minha” possuía uma Igreja católica matriz, uma pracinha, um supermercado(que de super não tinha nada), algumas crianças que sempre brincavam na rua, uma sorveteria, um banco e a casa da vovó.
No fundo, aquele era o lugar dos sonhos de todas as crianças do mundo. Um lugar tranqüilo onde podia-se ficar até tarde na rua e comprar pipoca feita na hora por um velho senhor que empurrava um carrinho. Era possível catar flores na praça e freqüentar a igreja sozinho, sem preocupar-se em perde-se ou arrumar encrenca com a mãe.
Mas sempre achei aquele lugar estranho demais. Parado demais, frio demais. Não sei se era porque eu sempre ia a Igreja aos domingos de manhã e me punha a discutir sobre tudo,mesmo com 6 pra 7 anos. Participei de muitas coroações e de muitas missas. Mas a indagação sempre permanecia.
Minha mãe nunca pareceu gostar de lá e meu pai parecia conhecer apenas aquelas redondezas, mas conhecia de uma forma inexplicável, conhecia com o coração, eu sentia que ele amava aquela tranqüilidade amigável bem ressaltada num poema de Drummond que fala sobre cidades interioranas.
O certo é que me mudei de lá, mudamos para uma cidade próxima a capital e me senti presa numa gaiola. Fui parar num apartamento não conhecendo ninguém do meu prédio.Mas não demorou muito pra eu fazer amizades com o pessoal, pessoas que até hoje vejo passar pelos corredores e portões deste mesmo lugar.
E uma das coisas que mais me impressiona,é que hoje, segunda-feira de carnaval, eu me encontro só em casa e ao olhar pela janela do meu apartamento,no quarto andar, me deparo com a mesma cena daquela cidade onde vivi meus primeiros anos de vida. Estranho como a tranqüilidade não está apenas em cidades com um pequeno número de habitantes.
Por vezes, ouvi dizer que cidades centrais são mais perigosas,que tem que se tomar muito cuidado com o que nos aguarda a cada esquina.
Penso que a sociedade acredita que o número de pessoas indica o número de erros e conseqüências. A matemática explicaria isso como proporcionalidade, a história diria que o homem é o lobo do homem.Eu diria que temos medo de viver. Medo do desconhecido e do conhecido demais.
Essa paz rapidamente vai passar,só basta chegar a hora de encarar os dias “úteis”. Dias úteis? Ah os dias úteis, são aqueles que eu vivia na “minha” minúscula cidade aprendendo a ser fria e ter medo dos próprios homens.


20 de fevereiro de 2007.

Um comentário:

Prima. disse...

Nossa! Esse texto ficou ótimo! Serião! Queria saber escrever assim [/invejinha]...realmente a "cidade grande" nos reserva várias surpresas...