segunda-feira, 21 de junho de 2010

Fagia

Recentemente conheci o http://projetomaisvoce.blogspot.com/
Super interessante, o dono do blog, Gabriel Barone, se propõe a preparar todas as receitas do livro criado pelo programa da Ana Maria Braga.
Com bom humor e muita força de vontade o ‘chef de cozinha’ se aventura confeccionando e registrando cada prato preparado.
O mais divertido é notar as dificuldades que todos experimentam na culinária, como por exemplo fazer Tapioca, motivo pelo qual o levou à Rede Globo para aprender com a própria apresentadora.

Assim como o Gabriel, a gastronomia toma uma grande parte do meu coração.
Porque a cozinha, pelo menos a mineira, não é apenas uma coletânea de ingredientes num abandonado espaço físico. Rubem Alves descreve tão bem, com tanta nostalgia. Inquestionável:

“Nas casas de Minas a cozinha ficava no fim da casa.
Ficava no fim não por ser menos importante, mas para
ser protegida da presença de intrusos. Cozinha era intimidade.
E também para ficar mais próxima do outro lugar de sonhos,
a horta-jardim. Pois os jardins ficavam atrás. Lá estavam os
manacás, o jasmim do imperador, as jabuticabeiras,laranjeiras
e hortaliças. Era fácil sair da cozinha para colher xuxús,
quiabo, abobrinhas, salsa, cebolinha, tomatinhos vermelhos,
hortelã e, nas noites frias, folhas de laranjeira para fazer chá.
[...]
Sinto-me feliz cozinhando. Não sou cozinheiro. Preparo pratos simples.
Gosto de inventar. O que mais gosto de fazer são as sopas.
Vaca atolada, sopa de fubá, sopa de abóbora com maracujá,
sopa de beringela, sopa da mandioquinha com manga,
sopa de coentro... Você já ouviu falar em sopa de coentro?
É sopa de portugueses pobres, deliciosa, com muito azeite
e pão torrado. A sopa desce quente e, chegando no estômago,
confirma...A culinária leva a gente bem próximo das feiticeiras.”
http://www.rubemalves.com.br/cozinha.htm


E quem não gosta de feitiços? Desde os primórdios a religião e o misticismo se aproximavam muito da culinária. Há, inclusive, jargões famosos como: “prender pela barriga”, que ganhou até um livro escrito pela Professora Aurora C. Gomes.
Além disso, ainda acredito que recepcionar alguém em casa é sinônimo de ‘pôr a mesa’! Talvez seja porque meu tradicionalismo não me deixe desprender as raízes.
Em Minas, o certo é que não haja espaço não preenchido por guloseimas, normalmente por receitas de família. E ‘colocar as mãos na massa’ significa muito mais que misturar os ingredientes, é acrescer carinho ao que faz para servir alguém. Por isso, comer deixou há muito tempo de ser apenas uma necessidade fisiológica para mim. É motivo para reunir amigos, família, pessoas queridas.
Tenho pensando em algum tema para pequenas festinhas em casa, algo aconchegante que traga todos para a minha cozinha. Nada melhor que inventar motivos para unir sorrisos a uma boa comida.

Nenhum comentário: